.jpeg)
MODERNISMO
A poesia não serve mais para nós...
Nesta época crua — tudo é prosaísmo
E ninguém admite doces ilusões,
E não quer — jamais! — saber de lirismo.
(Mas só de vergonha; tudo só vergonha
De falar em virgem... flores... lua... pranto...
Porque a alma de todos nós, os realistas,
Ainda é de mil oitocentos e tanto).
Hoje — a evolução! — só se escreve besteira
E quanto pior: mais genial, mais perfeito!
Agora a moda é a do subjetivismo
Que nos manda ao invés de seio escrever peito...
Poetas tristonhos, de negros cabelos,
Olhos sonhadores, faces desmaiadas,
Roupa no padrão do corvo ermo de Poe,
Poetas que (o! náuseas...) escreveis baladas,
Morte para todos vós, os passadistas
Do spleen, da taberna — e ainda mais — do verso...
Oh! vós que exigíeis ritmo, metro, estrofe,
E que só rimavam verso com disperso...
Morram, morram! A época é do pau-brasil,
Do samba, da farra e carnaval (velório
Depois...), de chantage, do gangster, do Blitzkrieg
— E onde vão os tísicos do sanatório!
* Arquivo da revista Gran-fina
A MORTE E A VIDA
“A morte, meus irmãos (falou o primeiro)
É treva; a vida é luz, só o fagueiro...”
Este era dos cinco homens, uno poeta.
“A vida... m...! A morte... não sei a meta”.
Diz descrente o segundo companheiro.
Exclamou aí então, deles o terceiro:
“Viver... Morrer... Por que? A curva e a reta?”
“Calai-vos, calai-vos, nobres ateus”
— O quarto tinha fé, que veio a dizer
“A morte me revela: a vida é Deus!”
E o silêncio fez-se no escuro horto.
Nada dizia somente o último ser.
Daqueles cinco amigos, era o morto...
* Arquivo Diário da Tarde
LINDA
Nós éramos pequenos. Sob o manto
Da inocência, voltou-me esta lembrança.
No jardim solitário, tonto, enquanto
No jardim solitário, tonto, enquanto
Falavas, eu beijei-te a bela trança.
Ficaste bem zangada. E logo o pranto
Brotou numa graciosa e quieta dança,
Dos teus olhos. O efeito fora tanto,
Que irada, devolveste-me a aliança...
Não chores! — eu pedi, com medo quase
Que tua mãe, hostil, nos surpreendesse
Com: Que coisa, meu Deus!... — a eterna frase.
Feia! — chamei-te. Então, com grande pejo,
Pediste-me qual santa, em santa prece,
Que mil beijos te desse — ou mais um beijo...
Que mil beijos te desse — ou mais um beijo...
* Arquivo Revista Careta
QUADRO REALISTA
No sórdido ambiente — os repletos cafés —
Negra multidão tonta pelas bebidas,
Pulula nervosa, ignorante, suspeita,
Derramada pelas mesas encardidas...
Sobre o mundo lívido de fracassados,
Imagem cruel de mulher, se intromete
Entre os elogios e feras diatribes,
No seu avental sujo — uma garçonete.
Servindo o café e o leite sempre morno,
Ouve uma proposta esperada, sombria,
E arreganha a boca seus dentes podres
— Contente por não ter perdido este dia...
* Arquivo da revista Gran-fina
•